Do processo eleitoral que levou à
eleição de Trump como presidente dos USA, acompanhado do crescimento de novos
fenómenos políticos, como são, o Podemos em Espanha, a FN em França, o 5 Stelle
em Itália ou o Brexit no Reino Unido, tem-me deixado um tanto ou quanto
inquieto no pensamento quanto à questão ...Como?? Porquê??
E as peças deste puzzle, de mudança
politica,começo a chegar a uma triste conclusão. É que na génese para tal
crescimento e/ou aparecimento destas novas formações está a fazer-se à custa do
declínio eleitoral dos partidos social-democratas por este mundo fora.
Isto porque a crise de legitimidade das
elites e o enfraquecimento dos partidos centristas são consequências
expectáveis de uma híper-globalização do comércio e das finanças e de como,
neste processo, as instituições reguladoras se vem revelando impotentes,
perante o fundamentalismo do mercado que tolerou principalmente o crescimento
desregulado na mobilidade de capitais financeiros.
Com consequências: Reemergem clivagens
sociais entretanto desaparecidas e as sociedades democráticas passam a mover-se
pelo ressentimento.
Ou seja, enquanto no passado, o acentuar
de clivagens de classe, entre qualificados e não qualificados, que se traduziam
em disparidades salariais, tendiam a favorecer o crescimento eleitoral dos
partidos de centro-direita ou de centro-esquerda. Hoje, deixou de ser assim. Os
perdedores da globalização, ou não votam, ou nem estão a votar nos partidos de
ideologia social democrata tradicional, preferindo sim, partidos ou
protagonistas excêntricos, desde que se apresentem com a dose adequada de
nacionalismo, populismo e revolta contra o status quo, da sociedade.
Ao contrário do passado, a
social-democracia, vem deixando de se apresentar como uma plataforma política
coerente face aos novos desafios e, pelo caminho, deixou de ser maioritária. A
asserção, aliás, é válida também para os partidos democratas-cristãos, pois
muitos deles transfiguraram-se, e viraram à direita e são hoje verdadeiras
formações ideológicas neoliberais.
É assim que neste cenário devemos
valorizar a actual conjuntura politica portuguesa pois esta decidiu com a opção
tomada, desviar-se do que seria o óbvio, o tal "Arco de Governação".
Deste modo o nosso contexto politico, de
governação pelo PS, com o apoio das esquerdas, tem implementado como seu
propósito de linha orientadora, o limitar das desigualdades, e o contrariar das
clivagens sociais, que fazem do ressentimento uma arma política, recuperando um
espírito comunitário, com políticas que visam devolver e reforçar a pertença
social, cultural e política.
Em suma, é hoje possivel perceber, que
passado 1 ano desde o inicio desta solução governativa, que para mim, é que
cada vez mais, uma boa solução a que é preconizada e assumida pelos partidos de
esquerda, devendo inclusive ser elogiada. Principalmente porque decidiu quebrar
o elo: - Na austeridade que vinha sendo imposta, onde as escolhas
individuais estavam anteriormente alicerçadas, isto em detrimento dos ideais
comunitários; - Para além de ter optado pelo lançamento de um um programa
realista e coerente que visa recuperar, com novas políticas, os direitos e a
dignidade do povo.